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O rosto feminino da educação popular de Fé e Alegria

Por Catarina de Santana Silva, coordenadora de Fé e Alegria Pernambuco, e Mariângela Risério D’Almeida, coordenadora Pedagógica de Fé e Alegria Brasil

 

Neste 08 de março, queremos homenagear e celebrar a força das mulheres em Fé e Alegria, uma instituição que ‒ não é exagero dizer ‒  é construída por rostos femininos. Com muito orgulho, podemos afirmar que o time de colaboradores de Fé e Alegria Brasil é composto por aproximadamente 80% de mulheres, que realizam um trabalho de qualidade e deixam sua marca. 

 

Podemos ver a diversidade que permeia os 14 estados do país onde estamos presentes. Somos indígenas, afrodescendentes, quilombolas, migrantes, meninas, jovens, empreendedoras e tantas outras, pois aqui é espaço de incluir e de valorizar. Trabalhamos incansavelmente por uma sociedade mais justa e igualitária. 

 

Apesar dos avanços legais, como a Lei nº 14.611/2023 de igualdade salarial, as mulheres brasileiras continuam enfrentando uma realidade desafiadora no mercado de trabalho, marcada por desigualdade e discriminação. Em 2023, um estudo inédito do W.Lab, uma parceria dos institutos Locomotiva e IDEIA, revelou que, embora as mulheres sejam responsáveis por 52% das horas trabalhadas, considerando a soma do tempo dedicado a atividades domésticas e ao mercado de trabalho, elas se apropriam de apenas 37% da renda gerada no Brasil [1]. Esses números destacam a necessidade contínua de esforços para promover a igualdade de gênero e combater a discriminação no mercado de trabalho brasileiro. 

 

Além disso, a força de trabalho feminina no mercado brasileiro enfrenta diversos entraves sociais que dificultam seu pleno potencial. Apesar de serem maioria na população, as mulheres ainda são minoria nos espaços políticos, representando apenas 18,2% do total de candidaturas eleitas, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além disso, o Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdade (Ceert) revela que mais de 40% das mulheres negras estão subutilizadas no mercado de trabalho [2]. A subutilização, segundo o IBGE, inclui pessoas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas e pela força de trabalho potencial. Por isso, o trabalho de Fé e Alegria busca contribuir para um espaço menos desigual e que promova a equidade de gênero na sociedade. 

 

A educação em Fé e Alegria possibilita, de múltiplas formas, reescrever histórias de vida, encontrar sentido e reimaginar futuros. Ouvir os sonhos, anseios e desejos de tantas meninas e mulheres nos compromete com o direito a uma educação de qualidade, em um contexto multicultural e multiétnico, a partir de novas epistemologias, em uma educação que transforme vidas. Nosso compromisso é com cada uma delas, ajudando-as a superar barreiras e a escrever histórias de solidariedade na comunidade, fazendo-as acreditar que um outro mundo é possível. Um mundo mais respeitoso, menos violento com cada mulher, onde nenhuma delas seja morta porque é mulher, e onde cada uma seja valorizada em sua diferença.  

 

É preciso romper com lógicas opressoras e considerar a intersecção de raça, classe e gênero para construir um novo modelo de sociedade. De acordo com a autora, teórica, educadora, feminista negra e crítica social norte-americana bell hooks [3], uma educação que promove o empoderamento diz respeito a mudanças sociais, numa perspectiva antirracista, antielitista e antissexista, por meio das mudanças das instituições sociais e das consciências individuais. Para ela, é necessário criar estratégias de empoderamento no cotidiano e em nossas experiências habituais, no sentido de reivindicar nosso direito à humanidade. 

 

É a partir dessa perspectiva que fazemos educação: por meio  de uma pedagogia engajada, crítica e comprometida, que nos convoca a refletir e agir sobre o mundo, a fim de modificá-lo, fazendo com que cada menina, cada mulher seja uma participante ativa, consciente e crítica do seu processo educativo, em uma experiência de educação democrática, de uma educação como prática de liberdade. É dessa forma que homenageamos e celebramos a vida de nossas meninas, jovens e mulheres! 

 

 

[1] https://exame.com/esg/mulheres-trabalham-mais-do-que-os-homens-mas-se-apropriam-menos-da-renda-no-brasil-diz-estudo/ 

[2] https://www.brasildefato.com.br/2023/03/21/desigualdade-mais-de-40-das-mulheres-negras-estao-subutilizadas-no-mercado-de-trabalho 

[3] HOOKS, Bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. E. Rosa dos Tempos.2018. 

 

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Catarina é graduada em Serviço Social e pós graduada em Gestão Estratégica em Recursos Humanos, em Gestão de Programas e Projetos Social e em Trabalho Social com Famílias, além de mestra em Psicologia Clínica. Atualmente é Coordenadora Executiva Regional do centro de Fé e Alegria em Recife (PE).

 

Mariângela é graduada em História e em Letras Vernáculas com Inglês, e mestra em Gestão Educacional. Atualmente, é membro da Comissão de Educação da Província dos Jesuítas do Brasil e do Grupo de Estudos e Pesquisas em Currículo, Ensino Médio e Juventudes Contemporâneas – Gepem/Unisinos, além de Coordenadora Pedagógica da Fundação Fé e Alegria do Brasil.

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