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Solidariedade e enfrentamento à tragédia no RS

A rua onde está localizado o Centro Social e de Educação Vila Farrapos, de Fé e Alegria, foi inundada.

As fortes chuvas que assolaram o Rio Grande do Sul na última semana causaram uma tragédia de proporções imensuráveis. Entre as obras da Companhia de Jesus que atuam no estado, uma das mais afetadas foi a Fundação Fé e Alegria. O Centro Social Vila Farrapos, que a instituição mantém desde 2010 na capital gaúcha, foi inundado neste fim de semana, causando um cenário de perda total, incluindo equipamentos e mobiliário, entre outros itens materiais. Vários professores e funcionários do Colégio Anchieta, colaboradores da área de Tecnologia da Informação (TI), da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) que residem na grande Porto Alegre também perderam tudo.

 

O coordenador do Centro, Pe. Vicente Palotti Zorzo, SJ, passou a madrugada de sexta-feira e todo o sábado acolhendo desabrigados na igreja da  Santíssima Trindade, que fica próxima à Fundação. Eram cerca de 200 pessoas, incluindo idosos e crianças, e todos foram resgatados por meio de barcos com o auxílio da Defesa Civil. “Por volta das 7h tive que desligar os interruptores da igreja, porque as águas já estavam atingindo o relógio da entrada. Sem energia, não conseguíamos carregar os celulares”, conta o  jesuíta.

 

Esta semana, a equipe de abordagem social do Centro está visitando os abrigos que acolhem as vítimas da enchente, com o objetivo de identificar colaboradores, atendidos e tentar reunir famílias. “Quando um barco de resgate partia, não se sabia para onde estava indo. As pessoas só queriam sair dali. Agora é tentar por ordem no caos”, relata Pe. Vicente.

 

O diretor-presidente da Fundação, Pe. Alexandre Raimundo de Souza,SJ reforça que a situação exige atenção, mas também paciência, e que, em um segundo momento, será necessário apoio para reconstruir o centro de Fé e Alegria. “Quando a água baixar, desejamos iniciar logo a reconstrução para abrir o Centro e oferecer apoio necessário aos nossos atendidos.”

Ações de solidariedade

 

A tragédia no Rio Grande do Sul nos mostra que a solidariedade é uma lição que se aprende na prática. As obras da Companhia de Jesus no estado estão mobilizadas para ajudar os atingidos. O Colégio Anchieta recebeu, durante o último final de semana (04 e 05), centenas de doações da comunidade escolar. O Grupo Escoteiro Manoel de Nóbrega foi o responsável pela logística de coleta dos itens. O Morro do Sabiá, área de convivência localizada na Zona Sul de Porto Alegre, está abrigando dezenas de famílias e animais de estimação.

 

Os dois ginásios da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo (RS), também são abrigos para mais de 1.300 pessoas, que recebem alimentação e atendimento de enfermagem e ao idoso. O Centro de Espiritualidade Cristo Rei (Cecrei), na mesma cidade, já está abrigando 150 pessoas e segue como ponto de coleta de doações.

Saiba como ajudar:

Leia o relato completo de Pe. Vicente Palloti Zorzo, SJ, sobre o fim de semana:

 

Pessoas que buscaram abrigo na igreja Santíssima Trindade foram resgatadas por meio de botes.

“Às 22h30 do dia 03 de maio, quinta-feira, o Pe. Anderson acordou-me dizendo que tinha um grupo de pessoas pedindo socorro. Fui ao encontro deles, e pediram abrigo na Igreja, pois o rio estava transbordando. Percebi que as águas eram do Guaíba, pois estavam muito sujas. Pelas 23h pedi a algumas pessoas para irmos ao centro de Fé e Alegria e pegar o que tinha de pão, biscoito, leite, suco e fruta, para levarmos para a Igreja. 

 

Pelas 2h, tínhamos cem pessoas na Igreja. Resolvi ir a Fé e Alegria para pegar vinagre. Para chegar à cozinha, é preciso passar pela nossa residência. Consegui pegar o vinagre e algumas toalhas secas. Voltei para a Igreja. Eram 5h da manhã. Ainda tínhamos luz. Pelas 7h tive que desligar os interruptores da Igreja, porque as águas já estavam atingindo o relógio da entrada. Sem energia, não conseguíamos carregar os celulares. Mais pessoas chegando. Pelas 9h, percebi que a situação estava começando a ficar complicada. Vieram duas pessoas dizendo que teríamos que sair enquanto dava tempo, pois o nível da água na rua estava apenas em 1,30 metros, e que se poderia ir caminhando (uns mil e duzentos metros) dentro da água até um local onde teria ônibus para levar a um lugar seguro. Pedi ajuda a alguns conhecidos que acionaram a Defesa Civil. Pelas 11h, veio o primeiro barco. Em quatro viagens, levaram umas 25 pessoas. Às 14h, chegaram os Bombeiros e disseram que iriam trazer comida para nós. Começaram a chegar mais pessoas.

 

Pelas 16h, chegou um bote de bombeiros do interior que vieram nos resgatar. Pelas 17h começaram a chegar mais barcos. Começaram a evacuar aos poucos. Tive que ir a Fé e Alegria para ver se, em caso de urgência, poderíamos sair por lá. As águas dentro do ginásio batiam no meu peito. Meu celular caiu na água. A partir daí, deixou de funcionar. Várias embarcações foram chegando. Éramos aproximadamente 70.  Às 19h, éramos 24 pessoas. Muito escuro. Já tínhamos colocado uma vela acessa no canto da  rampa para  sinalizar para os botes. Fiquei por último para partir. Fechei a Igreja do bote e fui para a área de apoio. Eram 20h30.

 

Chegamos na BR sob uma suave chuva. Com o aumento da chuva, tivemos que ir para baixo do viaduto. Na alça de acesso à nova ponte do Guaíba, encontrei o Pe. Anderson e vários moradores da Farrapos. Esperamos até às 23h. Chegaram os ônibus para nos levar até um centro de acolhimento. Reservaram um lugar para mim. Sentei-me. Nisto, ouvi alguém chamando por mim. Olhei para fora: o Pe. Anderson e os companheiros do Colégio Anchieta que estavam lá fora.

 

Pessoas se abrigam dentro da igreja Santíssima Trindade para fugir das fortes chuvas.

Ao sair, disse a todos que tivessem forças. Em breve, iremos nos encontrar na Igreja para celebrarmos o fato de estarmos vivos. Às 1h30, fui dormir na residência da Comunidade do Colégio Anchieta. Agora, é arregaçar as mangas pelo que vem a frente. Não estamos sozinhos”.

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