Centro social da Fundação em Porto Alegre ficou quatro semanas debaixo d’água
A Igreja Santíssima Trindade, localizada junto ao Centro Social de Educação e Cultura Vila Farrapos, de Fé e Alegria em Porto Alegre, tem 3,5 m de altura. Conta o Pe. Vicente Zorzo, SJ, coordenador do Centro, que, quando ela foi fundada, há cerca de 50 anos, o Pe. Blásio Raymundo Vogel, SJ, disse que iria construir uma igreja em que nenhuma enchente chegaria. “E a água não chegou. Faltaram 60 cm para que chegasse, e essa população estava na igreja”, relata padre Vicente ao lembrar da noite de 03 de maio, quando as águas do Rio Guaíba invadiram o bairro, inundando Fé e Alegria e levando os passantes a buscarem abrigo ali.
Naquela madrugada, passaram pela Paróquia mais de 200 pessoas e 60 cachorros, e todos foram resgatados em segurança. “Ficamos mais de 30 horas com elas, até virem a segurança, os bombeiros e voluntários para nos tirarem dali”, lembra o jesuíta.
A partir daquele dia, o centro de Fé e Alegria na capital gaúcha permaneceu inundado durante quatro semanas, e apenas quando as águas baixaram, no início de junho, foi possível ter a dimensão do que foi perdido e do trabalho que ainda há pela frente.
Além das perdas de tudo que estava no centro, como equipamentos, móveis e mantimentos, colaboradores, voluntários e atendidos também perderam suas casas. Desde o primeiro momento, Fé e Alegria esteve comprometida a auxiliar seus educandos e familiares, colaboradores e comunidade em geral, oferecendo apoio, reunindo famílias e distribuindo doações.
Crianças de volta ao centro
Hoje, enquanto segue alerta quanto à possibilidade de novas chuvas fortes, a equipe local da Fundação já dá os primeiros passos para voltar à normalidade e poder prestar seus serviços. Cerca de 30 crianças e adolescentes atendidos pelo Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos já estão frequentando o centro semanalmente. “É importante que venham, porque assim elas passam a ter disciplina, organização e as famílias se sentem mais seguras”, reforça Pe. Vicente.
O jesuíta conta que os educandos começaram a ser recebidos na cozinha, um dos primeiros ambientes do Centro a serem limpos e ativados. “Então as crianças vêm e recebem uma boa refeição. Talvez seja a única refeição do dia delas e, quando vão de volta para casa, enviamos algum material de higiene, de limpeza e a família fica feliz porque a criança veio ao projeto e levou algo útil para casa”, ele explica, ressaltando que o mais importante é acolher as pessoas e manter viva a chama da fé e da esperança.
Apoio de parceiros impulsiona retomada
Para que esse movimento de retomada seja possível, Fé e Alegria conta com o auxílio de financiadores, parceiros, voluntários e com doações feitas pelo site doeagora.fealegria.org.br/sosriograndedosul/.
Um dos principais apoios veio da Fundação Entreculturas em conjunto com a Inditex. A organização lançou um projeto, com duração de 18 meses, para colaborar com Fé e Alegria e o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR Brasil), para oferecer apoio material e psicossocial às pessoas afetadas pelas cheias.
O projeto visa a distribuição de bens essenciais para 8 mil pessoas, a reconstrução de equipamentos de centros educativos e sociais, beneficiando mensalmente cerca de 400 pessoas, e a proteção e apoio psicológico à população afetada. Este projeto soma-se ao apoio estável da Inditex no Brasil no âmbito da aliança com a Fundação Entreculturas, pelo qual nas últimas duas décadas foram beneficiadas mais de 60 mil pessoas.
Outra importante parceria veio da organização DU99, que viabilizou a limpeza das salas do Centro. A organização fez um mutirão com o auxílio de voluntários, que permitiu a limpeza desses espaços em poucos dias. “Ainda estamos limpando, para depois poder reconfigurar os espaços, esperar as paredes secarem para que possamos pintar”, explica Pe. Vicente.
Além desses apoiadores, a Fundação também conta com o apoio de outras obras da Companhia de Jesus, como o Colégio Anchieta, que tem auxiliado no atendimento às famílias e na reconstrução do Centro Social, assim como de organizações locais, que ajudam com doações de itens essenciais.
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